O que fazer para melhorar a “massa” do “pão” chamado Brasil?

Os dados ainda não foram fechados, mas arrisco dizer que o número de desempregados no Brasil está entre 12 e 13 milhões, um número absurdo que é ao mesmo tempo, efeito e causa de uma série de problemas sócio econômicos.

Sim, efeito e causa. Efeito, pois é a consequência final da desaceleração econômica, e também é causa pois prorroga os efeitos da desaceleração econômica.

Um ciclo vicioso, uma espiral negativa.

Temos visto com grande expectativa a melhora dos indicadores econômicos, os sinais para 2020 são motivadores, e isso é ótimo pois podemos respirar ares mais positivos que nos coloquem num ciclo virtuoso, de crescimento econômico e consequente redução dos aspectos sociais mais nocivos da recessão econômica.

Mas esse não é um texto sobre economia, tampouco político, nem tenho estofo técnico para tal, sou apenas um curioso que procura se informar sobre o assunto, o objetivo aqui é conversarmos sobre Gente, sim Gente. Você pode até se surpreender, mas o desempregado da estatística é uma pessoa de carne e osso, e acredite, é Gente.

Há quanto tempo falamos ou ouvimos falar sobre apagão de talentos? Faz tempo.

Há quanto tempo falamos ou ouvimos falar sobre altas taxas de desemprego? Faz tempo.

E porque nada acontece?

O que me motivou a escrever este texto é compartilhar com você foram duas experiências vividas por mim nos últimos meses. Alguns clientes de consultoria comercial da Keep Growing estavam com processos seletivos abertos para vagas de vendas. Uma delas ficou com vagas abertas por mais de 6 meses até que fossem preenchidas.

Antes que me pergunte, o trabalho não é de outro mundo, as exigências são mínimas, oferece produto de ponta, salário fixo mais comissões, treinamentos, um ambiente espetacular e boas possibilidades de ganhos.

O que acontece?

A outra está expandindo seus negócios, modificando o modelo comercial e isso passa pela estruturação completa da equipe comercial. Depois de uma primeira etapa onde não tivemos êxito e só conseguimos fechar a contratação de 1 profissional, abrimos uma nova etapa, que validamos hoje.

Antes que perguntem, o negócio é de alto valor agregado, exige algum conhecimento técnico específico, nada que não possa ser treinado ou aprendido. Alta possibilidade de ganhos, negócio em franca expansão, altamente seguro e confiável.

Para esta etapa recebemos 16 currículos, e aí começa a minha reflexão.

Destes 16 currículos, 8 foram descartados imediatamente por não terem o mínimo necessário de conhecimento técnico, experiência direta ou indireta com o negócio ou função, e estarem em total desalinhamento com o perfil requisitado, 50%.

3 foram direcionados para avaliação e eventual aproveitamento em funções técnicas pois são recém-formados e ainda não possuem experiência profissional anterior, precisam de estágio para desenvolvimento, 18,75%.

Restaram 5 currículos que foram convidados para entrevistas, e que atendem minimamente o perfil esperado para o cargo, 31,25%.

Destes 5 que serão entrevistados temos somente 1 mulher (20%) e 4 homens (80%).

Destes 5 que serão entrevistados, 3 tem idades acima dos 50 anos.

O que este extrato pode nos dizer? Na minha avaliação, muito.

Temos 50% da massa de desempregados mal preparada para o trabalho. Falta formação, preparação, estudo, e isso empurra esse grupo para o andar social de baixo, onde estes fatores ainda são pouco exigidos ou relevantes. Numa visão rápida podemos dizer que essa camada está espremida no fundo do poço, e sem perspectiva, o que agrava e esgarça o tecido social. É dever do poder público como responsável pela educação, prover meios para que o cidadão brasileiro evolua, e é nossa responsabilidade como cidadão assumir que a responsabilidade de cobrar é nossa.

Em torno de 20% da população economicamente ativa é recém formada, inexperiente pessoal e profissionalmente, tem razoável conhecimento teórico e acadêmico, mas não prático, são digitais por natureza, começam a trabalhar mais tarde, mas encontram um mercado onde empresas não tem tempo para esperar sua maturação e ainda são analógicas.

A participação de mulheres nos processos seletivos para profissionais da área comercial, em especial em setores mais técnicos, ainda é tímida e precisa ser promovida e incentivada. Lugar de vendedora não é somente na loja do shopping.

Os outros 30% tem condições de disputar minimamente uma vaga, tem experiências profissionais relevantes, tem vivência, e se preocuparam em se preparar e garantir sua empregabilidade diante dos novos desafios. Definitivamente são profissionais que podem contribuir com as empresas e podem entregar resultados mais rapidamente.

Aqui um recorte interessante sobre a idade, pessoas mais maduras e que aparentemente não ficaram paradas no tempo estão disponíveis no mercado, estão dispostos e são competitivos. São analógicos em tempos digitais.

Então você pensa, a base estatística é muito pequena, e eu concordo com você, bem por isso reforço que esse texto não é um trabalho cientifico, mas traduz em números o que vejo todos os dias nesta minha jornada, tanto como Gestor de Vendas, ou agora trabalhando como consultor em empresas dos mais variados tamanhos. É duro, mas é real.

O que aprendo com isso?

Temos que dar oportunidade para que os digitais experimentem e vivenciem o mundo analógico das empresas. Google só tem um, poucos trabalharão lá, mas a grande maioria das empresas usa e está no Google. Como pai aprendo que não posso por meu filho embaixo do braço e protege-lo na “minha caixa de jóias”, ele precisa aprender por si só, aprender a ser responsável por seus atos e omissões, aprender que ninguém fará por ele, tampouco o pai.

Temos que dar oportunidade para os maduros, principalmente para o que buscaram se desenvolver durante os anos, a experiência acumulada é um ativo importante. Precisamos ensinar estes analógicos a serem digitais. Às vezes eu sei, dá trabalho, mas é importante integrarmos toda esta experiência no seio das nossas empresas, é aprendizado direto “na veia”.

Incentivar e Integrar as mulheres para que aumentemos a diversidade na área comercial. Diversidade que é uma riqueza, o Líder que souber trabalhar com um grupo diverso terá muito a ganhar. A diversidade no grupo é um tesouro, escrevi sobre isso num outro artigo que está no link https://www.linkedin.com/pulse/pasteuriza%C3%A7%C3%A3o-de-times-leonardo-rodrigo-lopes/, acesse, leia e compartilhe.

Temos que apoiar e incentivar todas as iniciativas que objetivem o desenvolvimento cultural e educacional da população, sejam elas Públicas ou Privadas, sem isso nunca conseguiremos construir um país que possa competir neste mundo novo. Cobrar o poder público em todas as suas instâncias é imperativo, não podemos passar mais uma geração em branco.

Não sei para você, mas para mim é intrigante termos tanta mão de obra parada e ainda assim vivermos um apagão de mão de obra.

Essa é uma pintura que não pode virar paisagem no nosso tecido social.

Se você ainda não definiu uma meta social para buscar neste 2020, deixo aqui a minha dica, envolva-se em melhorar a “massa” desse pão chamado Brasil.